Análise e Intervenção Social
De Marlene Braz Rodrigues
Editado pelo CPIHTS e Veras Editora
Professora Doutorada em Serviço Social, a autora, a partir da sua experiência profissional no Instituto de Medicina de Lisboa, escreve num estilo muito próprio a terrível realidade que vivem as mulheres ( crianças, jovens, Mulheres ) vítimas de abusos sexuais. Na sua introdução deixa antevêr não só este tipo de violência, como demonstra cientificamente a violência que as instituições provocam nas vítimas atraves dos seus rituais de produção da verdade.
"Na minha prática profissional, não raras vezes, fui confrontada com situações algo semelhantes às de um filme de larga divulgação comercial, que de algum modo, contempla alguns aspectos do objecto da minha reflexão teórica. Trata-se do filme The Accused (Os Acusados), realizado por Jonathan Kaplan em 1988 e que proporcionou a Jodie Foster um Óscar. Vale sobretudo como documento sociológico, baseando-se o seu argumento num caso de violação de uma jovem americana, por um grupo de indivíduos da comunidade portuguesa de New Jersey, nos E.U.A., cujos ecos chegaram até nós, prestando-se a múltiplas leituras.
Procurando preencher o vazio das imagens com a “fraca” força das palavras, dir-se-á que, certa noite, Sarah (protagonizada por Jodie Foster) entra num bar onde toma uns copos, põe um disco na juke box e começa a dançar, entregando-se ao ritmo da música, numa movimentação não isenta de uma certa carga erótica. O que poderia não passar de um momento sem consequências, é transformado pela rapaziada circundante, em violação colectiva, sobre a mesa de bilhar, perante uma assistência, que incita e aplaude.
É este o ponto de partida para se enveredar por uma breve análise do tema, tentando percorrer o imaginário em que se apoiam determinadas formas de condenação e de julgamento da mulher-vítima. Esse imaginário é estimulado, a um tempo, por uma certa cumplicidade social, que conduz à culpabilização da vítima, e por uma espécie de solidariedade para com o agressor[1].
"Na minha prática profissional, não raras vezes, fui confrontada com situações algo semelhantes às de um filme de larga divulgação comercial, que de algum modo, contempla alguns aspectos do objecto da minha reflexão teórica. Trata-se do filme The Accused (Os Acusados), realizado por Jonathan Kaplan em 1988 e que proporcionou a Jodie Foster um Óscar. Vale sobretudo como documento sociológico, baseando-se o seu argumento num caso de violação de uma jovem americana, por um grupo de indivíduos da comunidade portuguesa de New Jersey, nos E.U.A., cujos ecos chegaram até nós, prestando-se a múltiplas leituras.
Procurando preencher o vazio das imagens com a “fraca” força das palavras, dir-se-á que, certa noite, Sarah (protagonizada por Jodie Foster) entra num bar onde toma uns copos, põe um disco na juke box e começa a dançar, entregando-se ao ritmo da música, numa movimentação não isenta de uma certa carga erótica. O que poderia não passar de um momento sem consequências, é transformado pela rapaziada circundante, em violação colectiva, sobre a mesa de bilhar, perante uma assistência, que incita e aplaude.
É este o ponto de partida para se enveredar por uma breve análise do tema, tentando percorrer o imaginário em que se apoiam determinadas formas de condenação e de julgamento da mulher-vítima. Esse imaginário é estimulado, a um tempo, por uma certa cumplicidade social, que conduz à culpabilização da vítima, e por uma espécie de solidariedade para com o agressor[1].
As mentalidades, atitudes e comportamentos retratados no filme “Os Acusados” põem em causa a própria noção de liberdade sexual, fundamento do tão apregoado bem jurídico tutelado.
Mas voltemos ao filme. Tarde da noite, numa cabina telefónica pública, um jovem contacta a polícia, relatando, num tumulto de palavras, ter visto três ou quatro homens a violarem uma jovem num bar próximo. Entretanto, a jovem, ferida e cambaleante, sai a correr do bar, acenando, em jeito de apelo desesperado, aos raros automobilistas que circulam àquela hora tardia. Um camionista pára e transporta-a ao hospital mais próximo.
Quando esta se encontra a ser examinada por uma médica do Serviço de Urgência, eis que surge uma assistente social do Centro de Apoio a Mulheres Vítimas de Violação para lhe assegurar ajuda. Uma outra mulher, promotora pública, vai registando as palavras debitadas
[1] Ainda que alguns considerem radical este tipo de observações, o facto é que ela expressa a cultura de uma sexualidade violenta, silenciosa, e disseminada na nossa sociedade. Deste modo, o tão apregoado bem jurídico tutelado – a liberdade sexual, nunca será uma realidade se as mentalidades, atitudes e comportamentos continuarem a ser semelhantes aos retratados no filme “Acusados”."
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