domingo, 29 de abril de 2007

Campo de Ourique : Não esquecer Guernica


Espanha: Apelos à paz no 70º aniversário de Guernica

O 70º aniversário do bombardeamento da localidade basca de Guernica pela aviação alemã ao serviço do general espanhol Franco tornou-se hoje num símbolo da paz, numa homenagem às vitimas da guerra e numa esperança de pacificação do País Basco.
Representantes de dezenas de organizações públicas e privadas, de cidades bombardeadas em vários conflitos, sobreviventes do ataque a Guernica e líderes políticos, concentraram-se na localidade para a leitura da declaração «Guernica pela Paz».
O texto, lido pelo presidente do governo basco Juan José Ibarretxe, traduz uma «aposta incondicional» no diálogo como único caminho para conseguir a paz, quer no País Basco quer em qualquer ponto do planeta.
Qualquer esforço de paz obriga ainda ao «respeito à diferença e à aceitação mútua» e ao «compromisso de todos» pelos esforços «diplomáticos» de «trazer a paz a Euskadi (País Basco) e a todo o mundo».
Entre os presentes estava Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz de 1980, que aproveitou a ocasião para emitir um apelo ao governo espanhol para que «continue, apesar de tudo, a procurar os caminhos da paz», através do diálogo, para o País Basco.
Esquivel, galardoado com o prémio «Guernica Pela Paz e Reconciliação», apelou ainda à ETA para que abandone a violência, afirmando que o diálogo é a «única forma» de «pôr fim à espiral de violência».
Um dos momentos mais emotivos das celebrações de hoje ficou a cargo de Luis Iriondo, um dos sobreviventes do ataque de há 70 anos, que recordou que Guernica sofreu já duas infâmias e uma injustiça.
Considerando o bombardeamento «um acto de terrorismo» contra a população civil, deixando intactos os objectivos militares, Iriondo lembrou que durante décadas os franquistas negaram que tenham estado por detrás da ordem do ataque.
Os sobreviventes do bombardeamento imortalizado numa das obras mais famosas de Picasso serão igualmente homenageados, recebendo o prémio internacional «Guernica pela Paz e pela Reconciliação».
Na tarde de 26 de Abril de 1937 - uma segunda-feira de mercado -, sem aviso prévio, a Legião Condor da aviação alemã, apoiada por aviões italianos, bombardeou a vila durante três horas, reduzindo a localidade praticamente a escombros.
O primeiro avião foi visto pouco depois das quatro da tarde e cerca de 15 minutos depois ocorreu a primeira onda de bombardeamento, em que foram usados aviões Heinkell 111 e Junker 52, de bombardeamento e Heinkel 51 de caça.
Até agora desconhece-se oficialmente o número de vítimas do ataque - que se estima entre 150 e 250, dependendo das fontes -, que serão recordados com uma oferta floral no cemitério de Guernica.
Centenas de pessoas ficaram feridas e mais de 70% dos edifícios da localidade ficaram destruídos.
Vários dos sobreviventes aceitaram nas últimas semanas conversar com a imprensa, com alguns a regressar pela primeira vez, em dezenas de anos, à localidade onde nasceram e viveram.
Destruída na guerra, a localidade é hoje vista como um símbolo da paz, cuja mensagem é, há duas décadas, transmitida para todo o mundo pela «Gernika Gogoratuz», uma organização que quer consolidar a paz na região, em Espanha e no mundo.
Ainda hoje se especula sobre as motivações do bombardeamento, desde vingança pela morte de um piloto a ensaios para o que seriam depois as acções da Segunda Guerra Mundial.
Diário Digital / Lusa
26-04-2007 18:07:00

domingo, 22 de abril de 2007

Campo de Ourique Um Livro Para Não Esquecer : Corpo Sexualidade e Violência Sexual

CORPO SEXUALIDADE E VIOLÊNCIA SEXUAL
Análise e Intervenção Social
De Marlene Braz Rodrigues
Editado pelo CPIHTS e Veras Editora

Professora Doutorada em Serviço Social, a autora, a partir da sua experiência profissional no Instituto de Medicina de Lisboa, escreve num estilo muito próprio a terrível realidade que vivem as mulheres ( crianças, jovens, Mulheres ) vítimas de abusos sexuais. Na sua introdução deixa antevêr não só este tipo de violência, como demonstra cientificamente a violência que as instituições provocam nas vítimas atraves dos seus rituais de produção da verdade.

"Na minha prática profissional, não raras vezes, fui confrontada com situações algo semelhantes às de um filme de larga divulgação comercial, que de algum modo, contempla alguns aspectos do objecto da minha reflexão teórica. Trata-se do filme The Accused (Os Acusados), realizado por Jonathan Kaplan em 1988 e que proporcionou a Jodie Foster um Óscar. Vale sobretudo como documento sociológico, baseando-se o seu argumento num caso de violação de uma jovem americana, por um grupo de indivíduos da comunidade portuguesa de New Jersey, nos E.U.A., cujos ecos chegaram até nós, prestando-se a múltiplas leituras.

Procurando preencher o vazio das imagens com a “fraca” força das palavras, dir-se-á que, certa noite, Sarah (protagonizada por Jodie Foster) entra num bar onde toma uns copos, põe um disco na juke box e começa a dançar, entregando-se ao ritmo da música, numa movimentação não isenta de uma certa carga erótica. O que poderia não passar de um momento sem consequências, é transformado pela rapaziada circundante, em violação colectiva, sobre a mesa de bilhar, perante uma assistência, que incita e aplaude.

É este o ponto de partida para se enveredar por uma breve análise do tema, tentando percorrer o imaginário em que se apoiam determinadas formas de condenação e de julgamento da mulher-vítima. Esse imaginário é estimulado, a um tempo, por uma certa cumplicidade social, que conduz à culpabilização da vítima, e por uma espécie de solidariedade para com o agressor[1].

As mentalidades, atitudes e comportamentos retratados no filme “Os Acusados” põem em causa a própria noção de liberdade sexual, fundamento do tão apregoado bem jurídico tutelado.

Mas voltemos ao filme. Tarde da noite, numa cabina telefónica pública, um jovem contacta a polícia, relatando, num tumulto de palavras, ter visto três ou quatro homens a violarem uma jovem num bar próximo. Entretanto, a jovem, ferida e cambaleante, sai a correr do bar, acenando, em jeito de apelo desesperado, aos raros automobilistas que circulam àquela hora tardia. Um camionista pára e transporta-a ao hospital mais próximo.

Quando esta se encontra a ser examinada por uma médica do Serviço de Urgência, eis que surge uma assistente social do Centro de Apoio a Mulheres Vítimas de Violação para lhe assegurar ajuda. Uma outra mulher, promotora pública, vai registando as palavras debitadas
[1] Ainda que alguns considerem radical este tipo de observações, o facto é que ela expressa a cultura de uma sexualidade violenta, silenciosa, e disseminada na nossa sociedade. Deste modo, o tão apregoado bem jurídico tutelado – a liberdade sexual, nunca será uma realidade se as mentalidades, atitudes e comportamentos continuarem a ser semelhantes aos retratados no filme “Acusados”."


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